quarta-feira, 10 de abril de 2024

Quadrinhos no Instagram


As chamadas redes sociais têm surgido cada vez mais como espaço privilegiado para a publicação de histórias em quadrinhos. Devido a sua praticidade, baixo custo e disseminação, elas surgem aos olhos de autores e consumidores como uma verdadeira mina onde podem ser encontradas produções quadrinísticas de todos os tipos, gêneros, estilos e motivações. Autores iniciantes encontram nas redes sociais os leitores que antes não conseguiam atingir com seus esforços individuais por meio de fanzines e publicações alternativas. Autores mais experientes e conhecidos podem ter nas redes sociais um ambiente privilegiado para ampliar e sedimentar o seu público, além de nelas encontrar a possibilidade de produzir obras não dependentes de editoras ou empresas comerciais, fugindo da ditadura do mercado. Elas parecem ser "o melhor dos mundos possíveis", como dizia Voltaire

Serão mesmo?

Essa é a pergunta que parece estar subjacente às reflexões de Maiara Alvim de Almeida, pesquisadora do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) em seu artigo "O Instagram como suporte para publicação de quadrinhos: vantagens e desvantagens da publicação em uma rede social", recentemente disponibilizado na edição da revista 9a Arte dedicada aos trabalhos apresentados nas 7as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos, realizadas em agosto de 2023.

No artigo, a professora destaca como publicar em uma rede social aparece não apenas como opção, mas muitas vezes como um imperativo para autoras e autores, tendo em vista a visibilidade que o canal, em tese, lhes traria. A possibilidade vem com diversos pontos positivos tanto para autores quanto para leitores, mas vem igualmente seguida de pontos negativos. Com tais reflexões em mente, ela apresenta as possibilidades de publicação na rede social, apontando os pontos positivos e negativos que a opção traz para quadrinistas. 

Trata-se de uma discussão atual e necessária de uma temática importante para todos os envolvidos no campo científico das histórias em quadrinhos, divulgando os resultados de uma pesquisa que vem sendo realizada há mais de quatro anos, contando, inclusive, com apoio de diversas instituições de fomento

O artigo pode ser acessado no endereço O Instagram como suporte para publicação de quadrinhos: vantagens e desvantagens da publicação em uma rede social | 9ª Arte (São Paulo) (usp.br).

Prof. Dr. Waldomiro Vergueiro

Semiótica de história em quadrinhos


A Semiótica vem sendo muito utilizada na análise de histórias em quadrinhos. Pelo menos duas obras com um olhar para os quadrinhos, produzidas por pesquisadores brasileiros de destaque na área estão disponíveis no mercado editorial: Semiótica visual: os percursos do olhar, de Antonio Vicente Pietroforte (Ed. Contexto) e Elementos de semiótica: por uma gramática tensiva do visual, de Carolina Tomasi (Ed. Atlas). Existem também muitos artigos científicos sobre o tema, publicados principalmente em revistas do campo científico dos Estudos de Linguagem.

A revista 9a Arte vem agora somar-se a esses trabalhos com a publicação do artigo de Maria Aparecida Alves da Silva, da Universidade Federal de São Carlos (campus Sorocaba), intitulado "Semiótica de história em quadrinhos: o processo criativo como tradução de uma ecologia de saberes na divulgação científica", recentemente publicado no dossiê dedicado aos trabalhos apresentados nas 7as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos.

No artigo, a autora investiga, por meio da análise semiótica, o processo criativo de estudantes de Ciências Biológicas na produção de história em quadrinhos, configurando uma Ecologia de saberes na divulgação científica. Para atingir esse objetivo, escolhe alguns exemplares de história em quadrinhos produzidas durante as aulas de uma disciplina de um curso de licenciatura em Ciências Biológicas para serem analisados, tendo como referencial analítico a Semiótica Peirceana

Os resultados demonstraram uma mobilização de saberes prévios e outros adquiridos no processo, além de um compartilhamento desses saberes em favor da manutenção do grupo, denotando um conhecimento que é próprio do grupo na produção das histórias em quadrinhos (códigos e símbolos pertencentes a área de Biologia, combinados com a linguagem das história em quadrinhos). 

O artigo está disponível emSemiótica de história em quadrinhos: o processo criativo como tradução de uma ecologia de saberes na divulgação científica | 9ª Arte (São Paulo) (usp.br).

Prof. Dr. Waldomiro Vergueiro

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Os paratextos nas histórias em quadrinhos



No segundo artigo do volume 12 da revista 9a Arte, o professor Ricardo Jorge de Lucena Lucas, da Universidade Federal do Ceará, enumera algumas das estratégias paratextuais de obras em quadrinhos que buscam estabelecer algum tipo de relação de referencialidade com a realidade (em termos factuais ou ficcionais). Para atingir tal objetivo, o professor baseia-se nas noções de metacomunicação e enquadramento (Bateson, Watzlawick, Goffman), de metassigno (Volli), de paratexto (Genette), do estatuto do texto ficcional (Searle, Genette) e de signos como instrumento (também) de mentira (Eco, Bougnoux, a partir de Peirce). 

No instigante artigo "Paratextos em quadrinhos factuais: como saber se e quando estamos frente à “realidade”? são analisadas quatro obras em quadrinhos: A arte de Charlie Chan Hock Chye (Sonny Liew, 2015); As mais loucas aventuras de Mickey (Lewis Trondheim e Nicolas Keramidas, 2016); Oleg (Frederik Peeters, 2020); e Guardiões do Louvre (Jiro Taniguchi, 2014). Ao final da análise, constatam-se algumas particularidades do corpus, como a posição editorial da ficha catalográfica.

O artigo está disponível para leitura e download em Paratextos em quadrinhos factuais: como saber se e quando estamos frente à “realidade”? | 9ª Arte (São Paulo) (usp.br).

O volume 12, atual edição da revista 9a Arte, referente ao ano de 2024, encontra-se aberto a constribuições. As normas nesse sentido podem ser encontradas em Submissão | 9ª Arte (São Paulo) (usp.br).

Prof. Dr. Waldomiro Vergueiro




quarta-feira, 20 de março de 2024

Mudanças no público leitor de mangá


Quando eu eu passava de adolescente para jovem, lá nos hoje temporalmente distantes idos da década de 1960, o mundo me parecia mais simples. Talvez eu até estivesse enganado, mas tinha a impressão de que os meninos liam gibis (em geral de super-heróis) e as meninas liam fotonovelas (em geral, histórias românticas). Isso hoje é passado. Na realidade, mesmo aquelas produções culturais produzidas para homens ou para mulheres, especificamente, já não são mais consumidas exclusivamente por esse público específico. Nada impede que as mulheres sintam prazer na leitura, por exemplo, de histórias em quadrinhos produzidas para homens. Ou vice-versa. E é bom que seja assim. Já temos rótulos demais.

Refletindo basicamente sobre essa questão no âmbito da produção de mangás, as autoras Beatriz Corrêa Oscar da Silva, Carolina Alves Magaldi e Laura Rodrigues de Freitas, todas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) apresentaram nas 7as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos da Escola de Comunicações e Artes da USP, o trabalho "Pra lá de onde o gênero faz a curva: as mudanças no perfil do público leitor de mangás shoujo e shounen". O texto, transformado em artigo científico, foi há poucos dias publicado no dossiê especial da revista 9a Arte.

As autoras almejaram discutir a intrínseca relação entre gênero e mangá, visando compreender as mudanças contemporâneas no perfil do público leitor de shoujo (mangá para mulheres) e shounen (mangá para homens). Para tal, explorararam o histórico do mangá como narrativa e representação dos perfis femininos e masculinos, discutiram os pormenores dos subgêneros shoujo e shounen e analisaram os mangás de maior destaque entre leitores do gênero oposto ao alvo da demografia em questão. Para atingir esses objetivos, partiram de pressupostos da Estética da Recepção de Hans Robert Jauss (1994 [1970]), de forma a problematizar as alterações contemporâneas nos quadrinhos japoneses.

A discussão e as interessantes conclusões a que chegaram as autoras podem ser acessadas no endereço eletrônico Pra lá de onde o gênero faz a curva: as mudanças no perfil do público leitor de mangás shoujo e shounen | 9ª Arte (São Paulo) (usp.br).

Prof. Dr. Waldomiro Vergueiro



As representações da morte


A morte já foi representada graficamente de diversas maneiras nas histórias em quadrinhos. A mais classica, talvez, é a de uma mulher descarnada vestindo manto e capuz, carregando sempre uma foice, com a qual "ceifa" as almas dos seres vivos. Ela é em geral apresentada de forma horripilante, como nas narrativas do personagem Dylan Dog, ou com características humorísticas, como nas histórias dos Estúdios Maurício de Sousa. Mas a verdade é que essa representação pode variar de autor para autor, com alguns carregando mais nos pincéis.

Raí Garcia Mihi Barbalho VianaMaria Isabel Borges, ambos da Universidade Estadual de Londrina, buscam um desses autores, o cartunista brasileiro Alberto Benett e analisam as formas como este realiza a representação da morte em sua obra. Como critérios de seleção do corpus, os autores elencam produções publicadas na página do Facebook “Benett Apavora”; gêneros tira cômica e charge; e produções que evidenciem a temática da morte por meio de símbolos visuais reconhecíveis (caveira, ceifador, esqueleto). Nesse sentido, o escopo temporal delimitado (janeiro de 2020 a abril de 2023) parece ter sido muito favorável, pois muitas produções abordavam a pandemia pela Covid-19

O levantamento resultou em 52 textos sobre a morte, sendo 42 charges e 10 tiras. Para o artigo, intitulado "As faces da morte e o lado descarnado da vida segundo Benett", foram escolhidas cinco amostras para análise: duas tiras cômicas e três charges. O aporte teórico é composto por estudos sobre símbolos da morte, linguagem e gêneros das histórias em quadrinhos. A análise comprovou a prevalência da caveira e do ceifador, dada sugestão evocativa da morte, mas atestou que o efeito de sentido da utilização pode ser alterado de texto para texto.

O artigo representa mais uma adição ao dossiê das 7as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos, que compõe um número especial da revista 9a Arte. Ver em: As faces da morte e o lado descarnado da vida segundo Benett | 9ª Arte (São Paulo) (usp.br).

Prof. Dr. Waldomiro Vergueiro

Representação dos negros nos mangás



Como mencionado em postagem anterior - ver postagem Observatório de Histórias em Quadrinhos - USP: Fragmentos da memória negra nos quadrinhos brasileiros (observatoriodehistoriasemquadrinhos.blogspot.com) - a representação dos negros nas histórias em quadrinhos tem atraído cada vez mais o interesse dos pesquisadores brasileiros. Nesse sentido, pode-se afirmar que o artigo elaborado por Anna Luísa Diniz Felipe e Michele Delbon Silva, vem corroborar essa constatação, dessa vez enfocando um tipo específico de história em quadrinhos, o mangá. No caso, as autoras se debruçam sobre uma produção específica, a série Jojo´s Bizarre Adventure, destacando como ela aborda questões de identidade negra e diversidade, ainda que de maneira problemática, na cultura japonesa

No artigo "Negros mágicos” e a evolução da representação de negritudes em Jojo’s Bizarre Adventure", as autoras discutem a importância da representatividade e exploram as implicações sociais e culturais dessa representação, focando em personagens como Muhammad Avdol e padre Pucci para questionar estereótipos raciais.

O artigo é um dos recentes acréscimos ao dossiê das 7as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos que está sendo publicado pela revista 9a Arte. Interessados podem ter acesso a ele no endereço eletrônico “Negros mágicos” e a evolução da representação de negritudes em Jojo’s Bizarre Adventure: os casos de Avdol e Pucci | 9ª Arte (São Paulo) (usp.br).

Trata-se de uma boa e instigante abordagem ao tema.

Prof.. Dr.. Waldomiro Vergueiro


terça-feira, 19 de março de 2024

Fragmentos da memória negra nos quadrinhos brasileiros

 


Pode-se afirmar que é muito difícil contabilizar os fatos e personagens negros na história brasileira que não foram devidamente documentados, registrados, transmitidos pela história oficial, e que, em diversos movimentos de reavivamento e resgates, vêm sendo “descobertos” e têm suas histórias, então, divulgadas. Isso vem ocorrendo por meio da literatura, das artes visuais, do jornalismo e dos quadrinhos que, para além de abordagens autobiográficas, também se debruçam, por exemplo, em discorrer sobre eventos históricos, em biografar a vida de terceiros, em falar da relação de manifestações, objetos ou espaços com determinadas comunidades e grupos.  

Tendo a memória, enquanto seu resgate e sua manutenção, como ponto focal em sua abordagem, esses trabalhos dialogam também com pontos sensíveis da arte afro-brasileira. Tal ocorre com o artigo de Leonardo Rodrigues dos Santos, intitulado "O desvelar da cultura negra nos quadrinhos brasileiros", publicado na edição da revista 9a Arte dedicada à reunião dos trabalhos apresentados nas 7as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos

O artigo objetiva debater como alguns quadrinhos vêm operando como ferramenta de perpetuação de diferentes fragmentos da memória negra brasileira, analisando essas produções pelas lentes da história, história da arte e de estudos raciais. Trata-se de um acréscimo muito bem vindo à temática, que cada vez recebe maior atenção de pesquisadores de quadrinhos.

O artigo pode ser acessado no endereço O desvelar da memória negra nos quadrinhos brasileiros | 9ª Arte (São Paulo) (usp.br).

Prof. Dr. Waldomiro Vergueiro